
- Pesteeeeeeeeee! Some da minha frente. Não quero mais te ver seu verme asqueroso!
Palavras de ódio pairam sobre o ambiente caseiro, atormentando aqueles que estão nas redondezas. Energias carregadas de sofrimento emanam do recinto, mutilando as almas infantis.
- Eu vou te matar desgraçada. Você que ousa atirar minhas coisas a deriva. Sua Vaca!
Prantos de sofrimentos escorrem em dilúvios nos olhos daquele ser que acabara de vir ao mundo. Eu vejo a cena e não posso fazer nada. Uma tristeza corta meu coração apertando-o contra minhas entranhas, dando-me uma sensação de falta de ar. A situação me impressiona. Não consigo mais volitar. Sinto a gravidade densa em volta daquele recinto.
- Você destruiu minha vida. Você é o responsável pela desgraça de vida que tenho!
Nesse momento a desiludida mulher agacha-se ao chão denotando o esgotamento psíquico. Percebo a palpitação cardíaca acelerada pela adrenalina excessiva. Toxinas de todos os tipos são sintetizadas pela nossa companheira no qual neste momento percorre todo o corpo, destruindo as células saudáveis que outrora a sustentava pela altivez e força. Vejo em minha frente uma mulher amarga que ignora totalmente a sua capacidade de se amar. Não consegue enxergar a Luz que brilha em sua frente, deixando que a escuridão a cegue em sua visão do espírito.
- Ousa a fazer algo sua megera! Quem coloca dinheiro nessa casa sou eu. Você depende de mim pra sobreviver e fará o que eu mando aqui nesta joça de casa.
Com os olhos estalados, concentra-se grande parte da corrente sanguínea no globo ocular denotando duas balas engatilhadas a fim de feri-la moralmente e devastar todo o âmago daquela mulher. A raiva toma conta daquela criatura que vive a anos na escuridão sem perceber uma luz promissora. Cria-se em sua face, um campo magnético, atraindo microorganismos parecidos com fungos, que exalavam um odor fétido. Em volta da casa sobrevoava aves negras atraídas pelo mau cheiro, prontos para dar o bote e saciar sua animalidade exacerbada. Um líquido preto dá vazão pelas extremidades daquele homem, denotando certa viscosidade, que faria qualquer indivíduo ser induzido ao vômito.
Adentra-se pela casa uma névoa acinzentada obscurecendo os móveis e isolando as criaturas do campo da visão espiritual. Nesse momento, a criança entra em pranto ao sintonizar com essas energias massacrantes. Tentei no que pude interceder aos emissários do plano invisível e pedi proteção para aquele momento triste.
- Eu não suporto mais essa vida de infelicidade e agonia- Diz a mulher.
- Você terá o que merece sua ingrata! – Retruca o homem
Apodera-se de sua força descomunal e lança suas mãos brutas e calejadas sobre o franzino corpo daquela irmã incapaz, arremessando-a sobre o chão de concreto e espoliante. Apoiada em uma cadeira e toda cortada pela fricção ao chão, o amedrontamento e desespero bate em sua alma causando cicatrizes profundas de rancor. A dor do espírito transpassa as sensações físicas. A cegueira e a escuridão a corrompe sem piedade. Percebo que seu perispírito se transfigura em uma forma animalesca. Era sua forma animal predominante em seu íntimo que se revela, trazendo os instintos adormecidos pelas existências. Vejo em seus olhos uma chama latente de ódio. Larvas cintilantes derramam em formas de lágrima escorrendo por todo corpo espiritual já desfigurado. Sinto uma tempestade de sentimentos trevosos exalando daquela alma humilhada. Os gritos da criança se tornam convulsivos. Sua família está prestes à destruição. Fraco e impotente perante a situação deixaram-me levar em um desespero profundo. Uma sensação de inutilidade me abate causando aflição e frustração diante daquela cena.
Uma risada maquiavélica preenche o ambiente. Sem dó e nem piedade, o homem diverte-se exacerbando prazer pela sua covardia. Nunca houve carinho, amor ou cuidados com aquela família. Viveu a vida como um reprodutor sem sentimentos ao próximo. O egoísmo preencheu sua existência de prazeres e jogatinas. Cresceu e viveu como sempre foi. Um animal frio e impiedoso. E agora, desperta naquela mulher os instintos mais primitivos que o homem poderia externar. Aquela risada soou como um punhal penetrando em seu peito causando dores mais profundas e horripilantes. Nesse momento, uma força me arrebata para fora daquele recinto. São meus amigos benfeitores me privando do pior. Disseram que nada podiam fazer naquele momento e que só a providência divina poderia aparar aquela situação.
E como a maioria dos casos que ainda persiste em nosso planeta, o pior aconteceu. Ao longe, vejo a mulher se apoderando de uma faca doméstica. Sem notar o fato, o homem havia dado as costas a aquela mulher dilacerada. E com um movimento descontrolado, apunhala-o pelas costas ferindo seu coração e pulmão de imediato. Uma tempestade magnética toma conta do recinto o transformando em trevas profundas. Como se tivesse vida, aquela névoa toma formas dissonantes murmurando sons gélidos e trevosos: - Assassina...Assassina...ahahahahahah!
Mais uma vez, a morte e a invigilância destroem os lares de todo mundo criando mais débitos entre almas aflitas de luz. Sirenes e gritos percorrem aquela rua estreita e pobre. Multidões de curiosos se instalam em frente da casa. Passa a tempestade e as energias se dissipam como aves de gostos pútridos que saciaram sua fome e partiram sem deixar rastros algum.
O silêncio assombra aquela comunidade, mas um grito de socorro percorre ainda o ambiente. A de uma criança que sentiu em sua alma as dores da destruição causada pelas desavenças no lar. Mas Deus não nos abandona. Disseram-me aqui neste plano de amor que uma ótima família irá adotar aquela pequena criança e que ela será o anjo que resgatará seus pais das regiões infelizes da alma os iluminando nas passagens futuras das provas e expiações que causaram em si mesmos. E eu, fui designado a auxiliá-lo nessa missão como forma de praticar o amor e a benevolência que com muita satisfação a abracei nessa seara de amor. O otimismo sempre haverá de vencer no final das tempestades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário